O último Encontro

[Rafal Olbinski]

Contudo

Ele permaneceu esperando

calma...mente

na sua cadeira de balaço

aquela para a qual desde sempre

esteve predestinado.

Ele sonhava que esse primeiro...e último encontro

sairia estampado em todos os jornais impressos,

nas rádios , nas emissoras de TV...

o desejo insaciável daquele homem solitário e simples

por essa luz primordial.

Todos os dias ao acordar às 5 horas da manhã

Ele tomava um banho impecável

Vestia o seu único terno de linho

Perfumava-se

Cuidadosa...mente

Pegava uma xícara de café

Fazia funcionar o seu antigo gramofone

Sentava na cadeira de madeira

na varanda de sua casa

acendia seu charuto Cubano

e esperava com um sorriso empolgante

e sincero

sua linda poesia

A Morte.

[ Hans Mulller]

Costela Medieval

Marc Chagall

Quadrados verdes emoldurados

um grande castelo de versos

encoberto por foices...

na costela medieval.

As árvores do quintal

no mesmo instante

murmuravam

lindas canções

ao vento

arrepiante.

Ficou.

Foi o último som.

O último grito.

Depois correu para algum lugar distante.

[Hans Muller]

O coveiro e as caixas de lágrimas

Gunther Von Hagens

Em frente a minha casa existia um cemitério encantador. Quando eu era pequeno não entendia todo aquele chororô...admirava o antigo coveiro, pois ele sim era o grande coitado, tinha que carregar nas costas todas as lamentações e odores dos parentes-criaturas ainda vivas...Eu e minhas amigas gostávamos de brincar pelas lápides ou procura as datações mais antigas. Às vezes o coveiro emprestava algum crânio... para que pudéssemos brincar de bola. Cresci e até hoje não entendo as lágrimas dessa gente.

HANS MULLER

Nos quadros de Olorum

Baco e Ariadne, por Agostino Carraceno, séc. XVI.

Eu pequeno aprendiz.

Desejo a embriaguez dos deuses

Emaranhado com seus cabelos

Embevecido dos seus lábios

E não mais acordar desse prazer.

Sua vulva...

vou mastigar sem nenhum pudor.

Corpos e almas

desenhados na lua cheia

com suspiros sonoros enlouquecedores.

Os Sussurros do último grão

de vida e morte

enaltecedor.

O cheiro e o suor

Paralisado o tempo-movimento

E tudo outra vez

Nos quadros de Olorum.

Hans Muller

A Taça das delicias.

Chagall - Romeo e Juliet

Havia sons na noite ancestral

um sopro da águia dourada.

O riso da camélia

com seu aroma inebriante

me fez suspirar de desejos .

A ampliação da obra infinita

numa modificação... diante de nós

reverteu-nos de folhas alaranjadas

uma performance codificada -

a taça da delicia ...

elevada a todos os DEUSES

no prazer supremo.

A tecitura dos corpos

Um momento raiz

Transbordando uma energia calorosa

Duma paisagem secreta.

Num movimento armorial.

Hans Muller

Gérbera

René Magritte, La Réponse Imprévue, 1933

Romântico Existencialista

Avesso
Libertino Extremista
Entre uma Gérbera
A foice na garganta
O cansaço físico-espiritual
Amor a morte...
cheiros cotidianos
Cometas na mente
Frutos renovados
e o pequeno guri
sentado na cadeira de balanço
deixado pelo seu avô-materno
experimentando colher
aquele novo fruto
adormecido
pelos anos da ilusão.

[Hans Muller]